Artista francano está em cartaz com “Repertório Shakespeare”

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de novembro de 2015 às 23:33
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:30
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Confira a entrevista exclusiva de Lui Vizotto que contracena ao lado de Thiago Lacerda e Giulia Gam

​Com apenas 25 anos Lui Vizotto já alcançou um patamar de sucesso muito mais elevado do que a maioria das pessoas de sua idade (Foto:Adriano Fagundes)

Com apenas 25 anos, Luis Gustavo Luvizotto, que recentemente adotou o nome artístico Lui Vizotto, já alcançou um patamar de sucesso muito mais elevado do que a maioria das pessoas de sua idade.

Nascido em Franca, o artista se revelou nos palcos do interior, mas foi na capital paulista que ganhou notoriedade e reconhecimento nacional.

Lui já atuou em diversos espetáculos, como “Zucco”, “Hotel Trombose”, “Sala de Espera” e “Cuidado: Garoto Apaixonado”, mas hoje, talvez, esteja realizando o maior trabalho de sua carreira (até então…). Ao lado de Thiago Lacerda e Giulia Gam, o jovem ator estrela nada mais, nada menos, do que Shakespeare. Em dose dupla.

Com o drama Macbeth e a comédia Medida por Medida, Lui encara um desafio grandioso: dar vida a duas obras do maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo, tudo isso ao mesmo tempo.

Mesmo com o êxito profissional tão cedo, conquistado através de trabalho duro e estudo incessante, ele continua com os pés no chão, e muitos planos para o futuro.

Confira a entrevista exclusiva de Lui Vizotto para o Jornal da Franca e saiba mais sobre as duas peças em cartaz e a trajetória desse talento francano.

 JF: Nome, idade, cidade de nascimento

LV: Lui Vizotto, francano de 25 anos

JF: Qual a sua formação?

LV: Me graduei em Teoria do teatro pela Universidade de São Paulo, em interpretação pela Escola de Arte Dramática também da USP, e em Canto pela EMESP – Tom Jobim.

 JF: O Repertório Shakespeare é composto por duas peças? Como funciona isso?

LV: O Repertório é composto pelo Macbeth, uma tragédia, e Medida por Medida, uma comédia, com o mesmo elenco fazendo os dois espetáculos.

Macbeth conta a história de um general corajoso que, ao voltar triunfante da guerra, encontra três criaturas misteriosas, videntes que lhe fazem a seguinte profecia: Macbeth será rei, em um futuro próximo. A ambiciosa Lady Macbeth, esposa de Macbeth, ao ficar sabendo da profecia, instiga seu marido a matar Duncan, o atual rei. Quando o crime é descoberto, os filhos de Duncan, Malcolm e Donalbain, sentindo-se ameaçados, resolvem fugir e Macbeth é coroado.

Medida por Medida fala sobre um duque que resolve reintroduzir uma antiga lei que pune todo e qualquer abuso sexual com a morte. Contudo, ele deixa que a lei seja implementada por seu vice, Ângelo, a quem transfere o poder por um período, enquanto ele se disfarça de frei para observar tudo à distância.

JF: Quantos atores fazem parte da peça?

LV:O elenco é formado por Ana Kutner, André Hendges, Fábio Takeo, Felipe Martins, Giulia Gam, Lourival Prudêncio, Luisa Thiré, Marco Antônio Pâmio, Marcos Suchara, Rafael Losso, Stella de Paula, Sylvio Zilber, Thiago Lacerda e eu. Somos 14.

JF: Qual o seu papel no “Repertório Shakespeare”?

LV:Sou ator e preparador vocal dos espetáculos do Repertório Shakespeare.

JF: Como surgiu o convite para realizar esse trabalho?

LV:O Ruy Cortez (curador artístico do projeto) e a Érica Teodoro (diretora de produção) assistiram ao “Zucco” [espetáculo da Ordinária Companhia, dirigido por José Fernando de Azevedo] no início de 2013, e lembraram-se de mim quando estavam fechando o elenco para o Repertório. Fui apresentado ao Ron Daniels (diretor dos espetáculos e um dos diretores associados da Royal Shakespeare Company), que confiou no meu trabalho e oficializou o convite.

JF: Como é contracenar com Thiago Lacerda e Giulia Gam?

LV:É um prazer! São dois atores incríveis, com muita experiência e uma entrega enorme para o trabalho, além de serem grandes parceiros. Estou cercado de vários artistas especialíssimos como Marco Antônio Pâmio, Luisa Thiré, Marcos Suchara, que já eram referência pro meu trabalho há algum tempo, entre vários outros que conheci neste processo. O teatro é uma arte coletiva e isso é o mais bonito, sempre temos algo a aprender uns com os outros.

Estamos muito afinados, nos entendemos bem dentro e fora da cena, e tenho certeza que essa sintonia entre elenco e equipe transparece para o público.

JF: Como foi a preparação para essa peça? Como são os ensaios?

LV:Iniciamos os trabalhos com a imersão de uma semana num sítio em Petrópolis, onde elenco e parte da equipe se encontraram pela primeira vez. Em seguida fomos para o Rio de Janeiro, onde permanecemos por três meses em uma rotina intensa de oito horas de ensaio por dia, seis dias por semana.

Apesar da loucura de levantarmos dois espetáculos simultaneamente, os ensaios sempre tiveram um clima muito harmônico, nos damos todos muito bem e o Ronaldo é um mestre minucioso, que cuida de cada detalhe com muito carinho e tranquilidade. É uma honra poder ser dirigido por um artista da grandeza de Ron Daniels.

JF: Você já sabia bastante sobre a história de Shakespeare ou foi preciso um estudo aprofundado para estar no palco?

LV:Shakespeare é um dos maiores dramaturgos da história mundial, é impossível estudar teatro sem passar por ele. Mas uma coisa é ler Shakespeare e outra é ver como funciona na prática. Nesse sentido, cada peça que se monta pede um estudo específico e aprofundado, pois, por mais que se tenha referências sobre determinado texto, ele agora está destinado a ser cena e não literatura. Há uma transposição que precisa ser feita e para isso é preciso sempre estudar.

Mas temos também a sorte de trabalhar com traduções feitas pelo próprio Ron em parceria com Marcos Daud, que escreveram para serem ditas por atores brasileiros do século XXI. Não é um texto rebuscado ou prolixo, vai direto ao ponto sem abrir mão da poesia.

JF: Como foi a reação do público?

LV:A nossa jornada acabou de começar. Pré-estreamos os espetáculos em Belo Horizonte nos dias 29 e 31 de outubro, e acabamos de fazer nossa primeira semana em São Paulo, mas a resposta do público tem sido ótima. Antes de assistir, as pessoas talvez tenham a falsa impressão de que Shakespeare é difícil, para poucos; mas saem da peça vendo que se trata de um autor popular. Queremos fazer com que seu texto chegue a todo tipo de público.

JF: Quais trabalhos você já fez anteriormente?

LV:Meus principais trabalhos no teatro foram “Zucco”, “Hotel Trombose”, “Sala de Espera” e “Cuidado: Garoto Apaixonado”,.

Na televisão fiz parte da série “A Grande Viagem”, da TV Cultura, prevista para ser exibida em 2016.

Como preparador vocal, trabalhei em “Zucco” e “Hotel Trombose”. E ter a confiança do Ron para repetir esta dobradinha e conduzir também a preparação vocal do Repertório Shakespeare, que é um trabalho que tem como foco central a palavra, é sem dúvida uma grande realização.

JF: O que você aprendeu com Shakespeare?

LV:Shakespeare nos coloca frente à complexidade das relações e das contradições que compõe cada indivíduo. Como ator é um privilégio criar a partir de um material tão humano e dialético, mas chega a ser assustador que temas como a ambição pelo poder, o moralismo e a corrupção nos façam tanto sentido ainda hoje, 400 anos depois.

JF: Quais as informações sobre a peça? Local de apresentação, horário, valor de ingressos, etc…

LV:Macbeth – às quintas e sábados às 21 horas

Medida por Medida – às sextas 21 horas e domingos às 18 horas

Sesc Vila Mariana

R$60 (inteira) / R$30 (meia) / R$18 (Credencial plena – trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes)

Até 31/01/16

JF: Como surgiu a vocação para as artes cênicas?

LV:Comecei cantando no colégio e em 2000 venci o festival “A Mais Bela Voz Infantil de Franca” (risos). A partir daí segui cantando e o teatro me apareceu no início da adolescência, quando comecei a mudar de voz e achei que não fosse mais conseguir cantar. Me apaixonei pelo teatro e dele não saí mais, acabei me afastando da música por um tempo, mas voltei a estudar canto e hoje consigo unir as duas coisas. Tenho projetos musicais que com certeza sairão do papel no ano que vem.

JF: Você já realizou algum trabalho aqui?

LV:Comecei cantando aos 8 anos de idade, tive banda por aí e fazíamos vários shows pela região. O teatro veio um pouco mais tarde, aos 12 anos, quando passei a fazer parte do Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Franca e por lá fiquei durante quatro anos. Foi uma escola e tanto… Aprendi que, apesar da diversão, era preciso concentração e muita disciplina. Aos 17 anos me mudei para São Paulo para estudar e desde que me profissionalizei só conseguimos levar um espetáculo a Franca no ano passado: “Hotel Trombose”, com direção de Fernando Gimenes, artista também francano que segue carreira São Paulo.

JF: Como você vê as opções culturais na cidade de Franca?

LV:Não temos uma política cultural efetiva em Franca. Estamos viciados em um modelo de gestão que não vê a cultura e a educação como prioridades. Muito se fala sobre eventos que levam shows de grande porte à cidade, geralmente de um mesmo gênero, mas muito pouco ou nada se vê de incentivo aos artistas locais, seja em sua formação ou na viabilização de projetos já existentes. A Bolsa Cultura é um avanço, mas não é suficiente.

A diversidade cultural na cidade se dá principalmente pela insistência dos artistas que, mesmo sem apoio da Prefeitura, resistem bravamente e seguem produzindo. Ao mesmo tempo, é preciso que os artistas da cidade dialoguem, que os grupos criem intercâmbio entre si, que discutam teatro, música, dança, cinema, artes visuais. Se esperar o poder público já provou ser improdutivo, é urgente que os grupos conversem sobre o cenário cultural, reconheçam os pontos de convergência em seus discursos artísticos e unam-se para cavar esse espaço, criando ações conjuntas.


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