Brasil tem piores índices de cobertura das principais vacinas da série histórica

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 5 de setembro de 2020 às 14:37
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:11
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Nenhuma das 9 vacinas atingiu a meta prevista pelo governo; 4 tiveram os piores resultados da série histórica

Sete das nove vacinas indicadas para bebês tiveram em 2019 os piores índices de cobertura pelo menos desde 2013 no país.

Em alguns casos, como os dos imunizantes contra tuberculose (BCG) e poliomielite, o porcentual de crianças vacinadas em 2019 foi o menor em mais de 20 anos, segundo dados oficiais do Programa Nacional de Imunizações (PNI) tabulados pelo jornal O Estado de S.Paulo no portal Datasus, do Ministério da Saúde.

Nenhuma das nove vacinas atingiu a meta prevista pelo governo. Quatro delas tiveram os piores resultados da série histórica.

A queda na cobertura vacinal já vinha sendo observada em anos anteriores, mas atingiu patamares ainda mais preocupantes no ano passado.

A BCG, por exemplo, dada aos recém-nascidos na maternidade, teve a menor cobertura da série histórica, divulgada desde 1994.

Com 85,1% dos bebês vacinados em 2019, foi a primeira vez em 25 anos que ela não alcançou a meta federal de ter 90% dos recém-nascidos protegidos.

Outra vacina que tradicionalmente registrou altas coberturas no país e sofreu queda na adesão foi a da poliomielite. No ano passado, 82,6% das crianças tomaram a dose, o menor índice desde 1997.

A vacina contra a hepatite B, dada ainda nos primeiros 30 dias de vida, registrou a pior taxa de cobertura vacinal desde 2014, ano em que foi incluída no SUS (Sistema Único de Saúde): 77,5%.

O imunizante contra meningite C e a vacina pentavalente tiveram, em 2019, as menores taxas de adesão desde 2011 e 2013, respectivamente, primeiro ano completo em que estavam disponíveis na rede pública.

A primeira registrou cobertura de 85,6% no ano passado. A segunda, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b, alcançou taxa de apenas 69,6%.

As vacinas contra rotavírus e pneumonia tiveram os piores índices desde 2011 e 2012, respectivamente.

O imunizante contra hepatite A, única das nove vacinas para bebês que teve aumento de cobertura entre 2018 e 2019, ainda está com adesão abaixo da meta: 83,7%.

Já a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, melhorou em relação a 2017 mas também não atingiu a meta de 95% de vacinados. No ano passado, o índice foi de 91,5%.

Para especialistas em imunização, embora os movimentos antivacina tenham um impacto na diminuição da adesão, os principais motivos para a queda da cobertura vacinal no país são a baixa percepção de risco da população sobre doenças erradicadas e dificuldades no acesso ao imunizante nos postos.

“Um dos problemas é a falta de vacinas. Nos últimos anos, com frequência recebíamos comunicados do ministério avisando sobre o desabastecimento de alguma vacina”, relata Alessandro Chagas, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais da Saúde (Conasems).

Para Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a escassez de alguns imunizantes levou à adoção de alternativas que dificultam a adesão da população, como a restrição de dias e horários em que uma determinada vacina é aplicada.

“A BCG é um exemplo. Sempre tivemos altas coberturas, porque o bebê já é vacinado na maternidade. No ano passado, algumas cidades passaram a agendar a vacinação no posto. Aí você já perdea janela de oportunidade.”

Ela cita ainda o caso da pentavalente, que ficou meses em falta em 2019. “É claro que fake news existem e prejudicam, mas parte do problema é falta de estrutura e comunicação com a população”, afirma.

A gerente de projetos Fabrícia de Souza Garcia, de 37 anos, demorou mais de um ano para encontrar, na rede pública, a vacina DTP para a filha, então com 4 anos. A DTP também protege contra difteria, tétano e coqueluche e é um reforço para a pentavalente.

*Informações CNN Brasil


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