Terreiros de Salvador seguem fechados : ‘orixás pediram e nós seguimos’

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 29 de julho de 2020 às 11:48
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:02
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Principais terreiros estão fechados há cinco meses por causa da pandemia da Covid-19

Terreiro da Casa Branca é o mais antigo de Salvador

Os principais terreiros de candomblé de Salvador, que estão fechados há cinco meses, optaram por manter as atividades suspensas, mesmo com a autorização da prefeitura da capital baiana na última semana. A justificativa das lideranças religiosas é uma orientação dos orixás e o respeito às recomendações científicas.

Além disso, a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) questiona o decreto da prefeitura de Salvador que, segundo a instituição, foi mais voltado para as religiões cristãs.

O babalorixá da Casa de Oxumarê, um dos terreiros de Candomblé mais antigos e tradicionais da Bahia, Sivanilton da Encarnação da Mata, conhecido como Babá Pecê, foi taxativo quando perguntado se haveria cerimônias ainda neste ano. “Nós não vamos fazer nenhuma cerimônia aberta durante esse ano, só no ano que vem”, disse.

Segundo Babá Pecê, os terreiros de Candomblé não entendem que a cidade chegou em um momento de retorno das atividades. O alto número de casos e mortes pela doença, divulgados pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), diariamente, é o maior fator para a decisão.

“Os orixás pediram e nós seguimos as orientações, porque se trata de uma questão de vidas humanas. Continuamos realizando as atividades internas, não paramos nada, mas não tem circulação de pessoas. O mínimo de pessoas possível”, contou.

O babalorixá informou que as atividades na Casa de Oxumaré, que sempre teve presença de público, ocorrem com número reduzido de pessoas, mas são transmitidas nas redes sociais.

A decisão de não reabrir a atividade para o público também foi seguida no Terreiro Ilê Odô Ogê, conhecido como Terreiro Pilão de Prata, que fica na Rua Tomás Gonzaga, no bairro da Boca do Rio, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) em 2004.

Pai Air José, fundador do terreiro, espera a chegada da vacina para pensar na reabertura. “A data da abertura quem vai dizer é Deus, não vamos nos precipitar e abrir as portas para o público. Porém, a casa está sempre aberta para os necessitados. A gente pediu para os orixás pelo mundo, não podemos abrir tudo, sendo que eles não tiveram ‘quarentena’ para nos proteger”.

“Não é momento de comemorações, quem sabe lá para março já estamos com uma vacina boa. Essa é a nossa esperança, porém as portas estão abertas para ajudar quem precisa”, disse.

De acordo com o antropólogo baiano Ordep Serra, a decisão de continuar em isolamento social é uma forma de respeito do povo de santo pela ciência. O professor é frequentador do Terreiro da Casa Branca, considerado um dos mais antigos do país.

“Estão suspensas, porque o pessoal de terreiro respeita a situação da pandemia e ninguém é maluco de fazer festa em uma hora dessa, colocando a vida dos outros em perigo. O povo de santo tem respeito pela ciência e vamos agir de acordo com a recomendação médica, científica, valorizando a saúde de todos”, disse.


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